Seduziste-me Senhor e eu me deixei seduzir por Ti. (Jr. 20,7)
Foste mais forte que eu.
No artigo anterior falei do dom da escolha. Nesse pretendo encontrar o início, sim, o local, se o posso chamar assim, onde brotam os Sonhos de Deus em nossas vidas. Para isso temos que voltar um pouco na história e lembrar:
“No princípio, Deus criou os céus e a terra. A terra estava informe e vazia; as trevas cobriam o abismo e o Espírito de Deus pairava sobre as águas. Deus disse: "Faça-se a luz!" E a luz foi feita.” Gn 1, 1-3
Quando falei início, era início mesmo, afinal Deus possui a suprema sabedoria que a pequena mente humana jamais irá alcançar: “Para mim, tua sabedoria é grandiosa, alta demais, eu não a entendo”. (Sl 139, 6). Fiat, o mesmo faça-se a luz no momento da criação, era o mesmo Fiat de Maria; faça-se em mim a sua vontade. Ambos abriram caminho para as maiores transformações do planeta, a Criação e a Salvação. Só posso concluir então, que nossos Sonhos nascem de um Fiat, dado no momento mais sublime de nossa existência: “Ainda embrião, teus olhos me viram e tudo estava escrito no teu livro; meus dias estavam marcados antes que chegasse o primeiro”. (Sl 139, 16).
Foi no ventre de nossa mãe, doce manjedoura de nossa criação, que Deus plantou seus sonhos em nós. Mas, e meu direito de escolha? Onde fica então? Deus, nunca irá tirá-lo de nós, somos nós os únicos responsáveis por nossa salvação ou condenação. Cabe única e exclusivamente a nós decidir se transformaremos nossos sonhos em realidade ou não.
Confesso que, ainda hoje, mesmo tendo vivido e experimentado diversas situações, me sinto confuso, porém uma coisa é certa: “Felizes, sobretudo, são os que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”. (Lc 11,28). Por mais que tentamos fugir da presença de Deus ou de seus sonhos, Ele sempre arruma um jeito de nos buscar. Ele nunca desiste de nós, mesmo que nós o rejeitemos e, quando nos deixamos conduzir por suas veredas, seus sonhos, experimentamos um amor e uma felicidade incomparáveis.
Vou fazer um breve resumo de minha história que, como a história de todo mundo a também poderia ser o roteiro de uma novela. O interessante, quando escrevemos sobre nossa vida é que conseguimos perceber a grande ação de Deus, presente em cada momento, em cada escolha.
Nasci em uma família católica. Meus pais me batizaram com dois meses de idade e nesse dia 24 de agosto de 1977, recebi a grande missão de todo cristão: “Jesus, a partir do batismo, proclama e difunde a Boa Nova do Reino, não somente por meio de palavras, mas por meio de suas ações (Mc 4, 23-25). E, orientado pelos meus pais, iniciei minha caminhada na igreja, com a catequese e o crisma.
Sempre curioso e extremamente dinâmico, adorava participar dos encontros e estudar as leituras do domingo, para poder responder as perguntas do padre durante a missa das crianças. Esse envolvimento foi crescendo e tomando grande espaço em minha vida e, aos 15 anos de idade, senti o chamado a me consagrar a Deus, a viver a vida à luz do Evangelho.
Conversei com meu pároco na época e, ao terminar o Colegial comecei a participar dos encontros vocacionais da diocese. Porém, desde os encontros até hoje, sinto em meu coração que Jesus quer algo mais profundo de minha alma.
Prestes a entrar no Seminário, aos 18 anos de idade, enfrentei um dilema em meu coração. Como eu, que nunca havia trabalhado, sempre estudei, nunca trabalhei, poderia ajudar e aconselhar as pessoas? Eu sempre participei ativamente das atividades paroquiais, fui catequista, coordenador de grupo de jovens, sempre trabalhei na pastoral da liturgia. O desejo de ingressar era imenso, mas eu não queria fazê-lo sem ter uma bagagem, um conhecimento que pudesse usar no meu ministério.
Nessa época, entrei em contato mais profundamente com a história dos santos de nossa igreja. Personagens maravilhosos. A dedicação aos mais pobres e sua renuncia aos prazeres do mundo me conquistaram. Era isso que eu queria para minha vida.
Sempre estudei em colégios particulares e meus pais me deram a oportunidade de realizar diversos cursos, mas quando pude decidir, no colegial, resolvi entrar em uma escola pública e cursar o Magistério. Encantava-me a ideia de poder ensinar as crianças da periferia de minha cidade. Fiz estágio em escolas públicas e entrei para um grupo de teatro onde realizávamos apresentações para entidades de assistência aos carentes. Entre essas entidades, conheci pessoas que trabalhavam com crianças especiais (surdos, cegos e deficientes mentais). Identifiquei-me tanto com esse trabalho que sempre dizia a Deus que, se não fosse para entrar no seminário, ou em uma ordem que eu gostaria de cuidar de crianças assim.
Foi então, que percebi que meu chamado era para este modo de vida, ajudar e amar sem ter nada em troca. Decidi não entrar no seminário e ir para a faculdade estudar artes, me aprimorar nas artes cênicas e com meu conhecimento ajudar aqueles que mais precisavam: "Todo aquele que acolhe um destes pequeninos em meu nome é a mim que acolhe." (Mt.9,37).
Fiz então um pedido à Deus, que nesse período em que estivesse aprendendo que Ele me desse a oportunidade de experimentar tudo, assim como Santa Teresinha, queria escolher tudo, para que quando fosse o momento eu tivesse a "bagagem" que tanto almejava.
E Ele me ouviu.
“Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi e vos designei, para dardes fruto e para que o vosso fruto permaneça. Assim, tudo o que pedirdes ao Pai, em meu nome, ele vos dará”. Jo 15,16
Postado por:
Luiz Marcelo Gonçalves
Vocacionado - São Paulo