03 novembro 2009

Coluna do Marcelo - Sonhadores de Deus

Crer é entregar-se.

Entregar-se é caminhar incessantemente em busca do rosto de Deus.

Escolhas, a vida é cheia delas, aliás, poderia dizer que a vida é “a escolha”. Sim, porque a cada minuto somos interpelados a continuar ou desistir, e o que fazemos simplesmente: escolhemos. Não pretendo, nessas poucas linhas, discursar sobre certos e errados, apenas sobre o maior dom recebido pelo homem. Dom que nem os anjos possuem: o livre-arbítrio, nosso dom de escolher.

Em muitos momentos na vida nos perguntamos o porquê das situações, das palavras, dos sofrimentos. Porque vim ao mundo? Teria eu uma missão? Qual? Onde? Acredito que essas respostas ressuscitarão conosco no último dia. Sim, talvez nunca nessa terra teremos certeza de nossas escolhas, apenas impressões do que elas causam em nossas vidas. Mas, uma coisa nos consola, não somos os únicos a sofrer pelas indecisões: "Resisti-lhe fortes na fé. Vós sabeis que os vossos irmãos, que estão espalhados pelo mundo, sofrem os mesmos padecimentos que vós. (1 Pd 5, 9)" Que alívio, não estamos ficando doidos afinal: “Deus escolheu o que é loucura no mundo para confundir os sábios”. (1 Cor 1, 27a)

Ao olhar a vida dos santos percebemos que eles, assim como nós sofreram todo tipo de indecisão, toda sorte de tribulação, e como nós tiveram que escolher. Mas onde se basearam suas escolhas? O que as sustentava, as motivava? O que fez as escolhas deles serem tão frutíferas a ponto de ultrapassar séculos e chegar até nós? Resposta: Sua Fé.

“A fé é a certeza daquilo que ainda se espera, a demonstração de realidades que não se veem”. (Hb 11,1)

No capítulo 11 da carta de São Paulo aos Hebreus, contemplamos o desfile de personagens de fé. Que viveram e morreram crendo. Mas, como explicar a fé, uma vez que ela deve, antes de tudo, ser vivida? Poderia então, com certa licença poética, dizer que ter fé é como sonhar. Ora, porque no sonho experimentamos sensações, emoções, que não se materializaram ainda. Os sonhos nos movem e nos animam a continuar. Seria então, um dos carismas daquele que tem fé, a vivificante capacidade de sonhar. Mas não sonhar qualquer sonho, qualquer desejo próprio e egoísta. Não! Ter fé é sonhar os sonhos de Deus, é deixar-se inebriar pela ação divina em nossa vida, que transformará o sonho em missão.

Pronto, resolvida então a primeira questão: qual a minha missão? Sonhar os sonhos de Deus.

Mas, esse pensamento gera outra pergunta: O que fazer desses sonhos? Teríamos nós a capacidade de interpretá-los e, mais ainda concretizá-los? Afinal, se o sonho de Deus é traduzido em missão e missão é ação, como eu, débil em habilidades posso receber tão preciso dom divino?

Uma pessoa fez isso e a partir dela tantas outras nos deram testemunhos do que é sonhar os sonhos de Deus e dar vida as maravilhas esperadas, alimentadas pela fé.

Maria, nossa adorável Mãe, com seu simples e humilde sim, sonhado e esperado por todas geração do Antigo Testamento, pelos juízes, reis e profetas. Pelo povo em desertos e exílios, prisões e cidadelas. A menina de Nazaré sonhou, acreditou, deu seu sim e caminhou. Sim, ela caminhou, afinal, qual foi sua primeira ação, imediata ao anúncio do anjo? Pôr-se a caminho até a casa de sua prima Izabel. Maria não apenas sonhou e aceitou, mas sua alma missionária pôs-se em ação.

Cheguei finalmente onde queria, em Maria a fonte inspiradora do viver evangélico, de transformação de vida a partir do compromisso de seguir Jesus. Claro, porque não existe sonho divino que não tenha sido revelado por Jesus. O que nós, sonhadores de Deus somos vocacionados a fazer, é nada mais nada menos, do que colocar em prática cada palavra, cada parábola, cada ensinamento presente na Boa Notícia. Assim como nós, Matheus, Marcos, Lucas e João sonharam em levar a boa notícia a todas as criaturas e de seus sonhos nasceram os evangelhos. Paulo, ao sonhar em levar Jesus aos pagãos transformou esse sonho em cartas e pregações. Isso ocorreu com São José, São Francisco de Sales, Santo Inácio de Loyola, São Caetano de Tiene, Santo Tomás de Aquino, São Vicente de Paula, São Luiz Gonzaga, São Filipe Néri, São João Berchmans e com o Pe. José Gualandi. Todos esses e muitos outros sonhadores de Deus souberam materializar e direcionar sua vida sobre sua missão, seu chamado, sua escolha.

Inauguro hoje essa coluna no Blog para contar experiências de sonhos e sinais de Deus, em minha vida e na vida de outras pessoas, contemporâneas a nós, sonhadoras que, como nós, buscam viver o evangelho, essa difícil e doce tarefa no seu dia-a-dia. Conto com a ajuda de todos, afinal um sonho sonhado junto se torna realidade. E é justamente por esse caminho que inicio a coluna, contando como o sonho do Pe. José Gualandi tornou-se o meu sonho. Como meus sonhos encontraram nos sonhos dele um motivo, um objetivo, uma Missão. Uma pequena missão, onde tantos outros como eu creem, e crendo entregam-se ao caminho e no caminho à missão de buscar o rosto de Deus no rosto dos irmãos.

"Este Jesus vós o amais, sem o terdes visto; credes nele, sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas almas."( 1 Pd 1, 8 )



Postado por:


Luiz Marcelo Gonçalves

Vocacionado - São Paulo

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